Por Carlos Henrique Machado Freitas
A triunfalista Ministra da
Cultura, Ana de Holanda, ganha do valor econômico, em mais uma
desastrosa entrevista, a etiqueta de “Menos show e mais ação”. E partiu
mesmo para a ação de criminalizar cinicamente os pontos de cultura e
defender vergonhosamente o Ecad e a Lei Rouanet.
Até aí nada de novo. Sob seu
comando, o MinC, em oito meses de permanente crise, promoveu um desastre
contra as classes sociais menos favorecidas e colocou os ricos no
olimpo. Mas a Ministra na entrevista deu também um show de soberba e, ao
mais puro estilo “comigo ninguém pode” fez seu primeiro arroto real
sentada no trono, dizendo não temer a travessa das bananas, pois muitos
que declararam guerra a ela, juravam que sua gestão não passaria das
festas de São João, tripudia do alto de sua onipotência.
Durante a entrevista, a
Ministra, de boca cheia, fala de sua tipoia, a Secretaria da Economia
Criativa, mesmo que ninguém, nem mesmo a sua secretária Claudia Leitão
tenha noção do que a Ministra exclama como augusta obra-prima em seu
cenário de papelão já surrado até mesmo nos bastidores da política
nacional. O Ministério da Cultura tem se revelado um fiasco tão grande
que até seus canzarrões não levam mais a majestade ao pé da letra. Mas
ela põe uma estrela na porta de seu camarim, suspira e segue saltitante
na entrevista, “o apoio do mundo da cultura foi praticamente total”.
Upa!
Ocorre que Ana de Hollanda criou
um império de normas que dá cada vez mais força ao papel dominante das
normas privadas na esfera pública. Isso mais do que desnorteou a
atmosfera cultural do Brasil, produziu insegurança e medo de que a
politização da cultura se generalize com rapidez, além de outros
processos negativos em diversos níveis do governo. E é neste momento que
nas plenárias a presença de Ana se torna um processo distorcido.
Coincidência ou não, já se tornou tradição o distanciamento do Palácio
do Planaldo da imagem da Ministra. Na realidade é péssimo para a
visibilidade de Dilma posar ao lado de Ana de Hollanda. E num típico
fenômeno de quem não tem remédio, Ana praticamente não se encontrou com a
Presidente Dilma, jamais esteve em seu gabinete para uma reunião, no
máximo, chegou à Casa Civil.
Na verdade ninguém no governo
quer levá-la a sério tamanha dificuldade que suas ações têm provocado
com seus desequilíbrios e distorções na forma de agir na base estrutural
do Ministério da Cultura. O MinC hoje mudou negativamente a paisagem
geopolítica do governo Dilma. Preocupada em acomodar a fidalguia do Ecad
e os Rouantes, institutos, fundações e os captadores corporativos
associados, Ana, dentro do governo, virou macaco em loja de louça.
Ninguém atura mais seu apelo exagerado de auto-piedade. Ela consegue o
impossível a ponto de ser quase unanimidade negativa no território de
nossa cultura.
Não há, portanto, a menor
hipótese do seu vergonhoso sentimentalismo reverter essa pantomima de
aforismos. A realidade é que todos estão cansados do niilismo original
que se transformou em espetáculo de absurdos em um MinC contemplativo e
redentor do mercado. É comum Ana ser considerada simplesmente como uma
figura inventada na política, até porque jamais procurou inserir um
pensamento humano que desse sentido à sua genealogia moral. Ana trabalha
fortemente pelo poder dominante, é aí que ela aparece forte e
contundente, sobretudo quando não aceita sob qualquer hipótese que o
Ecad seja fiscalizado pelo Estado e, na entrevista, solta esta pérola de
cinismo. “Não houve mudança. Eu nunca falei a palavra “fiscalizador” e
continuo não falando”.
O fato é que, além dos
cordeiros, e as aves de rapina que arrebatam milhões de recursos
públicos via Lei Rouanet, não existe uma pessoa que não combata hoje
esta “dourada vitória” da Minista sobre a cultura do povo brasileiro.
Ela já nem disfarça mais que seu objetivo é, além de lutar para que os
poderosos retomem a luz dentro do MinC, é sobretudo, criminalizar e
isolar os pontos de cultura. E aproveita o ensejo para atacar milhões de
brasileiros envolvidos com o Cultura Viva. “Se for para o Estado se
tornar paternalista e assistencialista, eu sou contra. É preciso buscar
formas de independência da ajudinha do governo.”
Não podemos sequer dizer que Ana
mercantiliza a cultura. Quando olhamos através do espelho do MinC,
podemos dizer com consciência tranquila que Ana mercantilizou os aportes
públicos justamente onde lhe convém, dando aos porcos da captação, os
sutis iluminados do capitalismo cultural, o atrativo maior de suas
vidas, milhões de recursos públicos. Portanto, agora, onde teceu um
tratado com as trevas, a Ministra continua preparando as festas das
“bodas de marfim” dos elefantes de ouro, institutos e fundações erguidos
e sustentados com dinheiro público via Rouanet.
Na entrevista da Ministra ao
Valor Econômico, o que não deixou dúvidas é que ela não pretende deixar
qualquer lacuna entre o poder dominante e o MinC. E assim permitir que o
ideal ascético domine a atmosfera cultural do Brasil. Igualmente, no
entanto, a índole da Ministra deixa claro que todas as modificações
ébrias para destruir as bases sociais da cultura brasileira serão
tratadas como um sistema prioritário e, portanto, a marginalização e a
aplicação metódica de penitências aos Pontos de Cultura serão sempre
objeto de uma prudente preocupação de sua gestão.
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