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Prefiro a fúria dos "loucos" a hipocrisia dos "sãos"

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Não somos semi-deuses, humanos é que somos.

A fetichização da imagem de Zé Celso contribuiu para transformá-lo neste "semi-deus", como Danilo Monteiro, coloca muito bem: “único representante de Dioniso”. Tal construção se valeu da nossa própria categoria ao se render a ideologia que estigmatiza o artista como alguém além do humano, algo deusificado - proposta que Zé Celso acaba por carregar em seu discurso, quando diz ao interromper a assembleia do MTC durante a ocupação da FUNARTE: “Vocês não são trabalhadores, mas cultivadores da cultura”, como se o ato de cultivar não merecesse a força do trabalho, como se trabalho não fosse algo digno, mas próprio de seres humanos inferiores. Tal pensamento em voga a tantos anos, contribui para a formação de divas, astros e estrelas de uma constelação que não brilha para todos e que na prática só se presta a colocar-nos uns contra os outros, na busca incessante de verba pública por meio de concorrência; nas audições para conseguir um papel em alguma produção que nos sustente temporariamente; no batalha por visibilidade na mídia burguesa para que nossos espetáculos tenham um público desejável.

 O MTC ao se auto-denominar como TRABALHADORES DA CULTURA e não como um movimento de artistas tem um ganho insuperável, pois é a partir daí que horizontalizam as relações, temos os mesmos entraves, as mesmas demandas e os mesmos propósitos. Já não somos mais semi-deuses, humanos é que somos, e dessa forma se estabelece que como qualquer humano, todos temos as mesmas necessidades, tenham sua origem no estômago ou na fantasia e assim não há vazão para discórdia, pois a dor do outro é a minha dor, há empatia. As demandas já não são somente minhas, mas nossas (inclui-se aí todos, inclusive os que criticam as ações do Movimento). As exigências são de uma categoria e não individuais, como o mercado exige. Saímos do ostracismo paternalista de esperar que o mercado resolva valorizar a cultura que na verdade tem seu valor, mas este é imaterial. Daí a exigência de que o Estado faça sua parte, subsidiando cultura publica com dinheiro publico de forma igualitária, ao invés de investir dinheiro publico em cultura privada, selecionando entre nossos “cultivos culturais” o que, segundo eles se encaixa neste padrão mercadológico do que é e o que não é cultura. Assim, continuam transformando seres humanos em deuses do mercado cultural e dessa forma perpetuam a ideologia que faz com que artistas que deveriam valer pelo seu trabalho e sua luta, como é o caso de Zé Celso, se transformem em “únicos representantes de Dioniso”. Os demais humanos, meros mortais, que se matem pelas migalhas distribuídas pelo mercado e como diria Machado de Assis: “aos vencedores as batatas”.  

Enfim, saímos da caverna, e vimos que são somente sombras que se projetam nas telas da TVs – “fábrica de estrelas cadentes”; que nossa arte não é mercadoria; que nossas reivindicações vão muito além das exigências de verba publica para a cultura; enfim, e talvez  o que mais assuste aos eternos bajuladores das estrelas e as estrrelas bajuladas: QUE TODOS SOMOS UM. 



Alessandra Cavagna
Atriz e Diretora da Impávida Troupe de teatro popular
Integrante do Movimento dos Trabalhadores da Cultura


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

NADA É IMPOSSÍVEL (B. Brecht)

Desconfiai do mais trivial ,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:

não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

QUANDO OS TRABALHADORES PERDEREM A PACIÊNCIA

Mauro Iasi
Professor da UFRJ e membro do Comitê Central do PCB (Partido Comunista Brasileiro)

As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!